As emoções durante o tratamento do câncer
Uma pergunta vem à mente quando queremos falar sobre as emoções que acometem aqueles que estão passando pelo processo de tratamento do câncer. A pergunta é: Por onde começar? Isso porque escrever sobre as emoções e os sentimentos de pessoas com câncer, ou outras doenças, é como tentar traduzir em palavras vivências pessoais que não podem ser escritas na mesma intensidade que são experimentadas. No entanto, aqui tentaremos abordar informalmente um pouco sobre algumas emoções nesse processo.
Ansiedades, temores e esperanças; agonias, expectativas e frustrações. Tudo no plural porque as oscilações variam de acordo com o momento, a maturidade e a aceitação, a reconciliação das emoções etc. Tudo isso e mais são algumas das experiências emocionais vivenciadas por pacientes em tratamento do câncer, seja qual for. Dentro desse processo, há um conjunto de tomadas de decisões que vão desde a própria aceitação de estar doente até a decisão pelo tratamento ou não; decisões para lidar com os retrocessos ou com a total recuperação.
Essencial é saber o que são as emoções. Uma rápida passada pelo dicionário e encontramos o significado como sendo um ato de movimento moral; perturbação do espírito que é provocada por diversas situações, ocasionando esse movimento de sentimentos. Esses movimentos geram os estados emocionais que tem como resposta o estado emocional positivo (alegria, gratidão, amor), ou o estado emocional negativo (medo, raiva, tristeza e culpa). Todos nós experimentamos estados emocionais.
De forma concreta, na vida de pessoas que enfrentam o câncer, oscilar entre o estado emocional positivo e negativo é muito comum. Um exemplo seria a passagem da alegria para a tristeza e vice-versa em relação a alguma notícia do tratamento.
O diagnóstico inicial de câncer, para muitas pessoas, é o momento de maior impacto emocional negativo. Há relatos de pessoas que, ao saber da doença, entram num estado de paralisia emocional tão intensa que acabam vivenciando um sofrimento psíquico nunca antes sentido – podendo ocorrer a não aceitação de intervenção emocional positiva, seja de si mesmo ou manifestado por pessoas próximas. Claramente, o impacto do diagnóstico do câncer (saber que você tem câncer), saber que algo ameaça a sua vida, é um descarga emocional não habitual que traz uma carga emocional negativa excessiva.
Saber lidar com essas emoções negativas é o que muitos chamam de equilíbrio emocional ou equilíbrio da inteligência emocional. Há inúmeras maneiras de fazer isso. No entanto, é preciso disposição emocional, é preciso adquirir a maturidade e ter uma dose de esperança para deixar-se tocar pelos que te amam e, ao mesmo tempo, tocá-los com sua aceitação e luta pela vida. Aqueles que te amam precisam, também, não sentir que estão sendo evadidos, expulsos de seu mundo por causa da doença.
Em uma situação em que a mãe recebe o diagnóstico de câncer, há filhos que se sentem emocionalmente expelidos nessa fase inicial. A resposta emocional é erguer algumas barreiras da não aceitação que, de forma natural, é esperado em situações de choque. A mãe com câncer, além de sua carga emocional terá que saber balancear, também, as emoções do(s) filho(s), impedindo que tais barreiras não os impeça de dar os passos necessários para a aceitação do estado da doença.
A impotência e a negação são sentimentos fortes nesse caso. O poeta indiano Tagore bem soube explicar esse estado emocional ao dizer que “o homem se entrincheira contra si mesmo” (e contra os outros a sua volta). Na maioria dos casos, impotência e negação são estados de defesa temporário. As relações pessoais e interpessoais, o diálogo amoroso são meios de caminhar para reverter esse condição.
Assim, um conselho que é dado a todos os que passam pelo tratamento do câncer, é se cercar de afetos, ou seja, de tudo aquilo que te inclina para a vida e o viver. Cercar-se de emoções positivas oferecidas por pessoas empáticas (seja família, amigos, conhecidos e colegas de trabalho etc.). Cerca-se da beleza, isto é, daquilo que transmite sentimento de êxtase e admiração pela vida, como a natureza, a música etc. Cercar-se de espiritualidade, caso tenha uma religião, pois o ato da confiança e fé na medicina, no transcendente é psicologicamente viável em casos de doenças.